Na porta de casa
Prestes a entrar
Um visitante se aproximou
A testa a sangrar
Em
confusão
Não dizia nada
Debatia-se no chão
Os olhos avermelhavam
Ai, meu Deus, que aflição!
Demonstrava temor
Convidei-o a ficar
Mediquei-o com amor
E a ele me dediquei a cuidar
Arrumei-lhe alimento
E acomodação
E
a noite nos acalmou
Diante de sua
exaustão
Pela manhã ouvi seus movimentos
Pensei: “vivo ele está”
E levantei-me da cama
Para logo trabalhar
Aparentando melhora
Acompanhei-o ao seu lar
E abri a caixa onde dormira
Para firme voo alçar
Curado de
seu ferimento
Bateu asas o
pardalzinho
E agradecido foi para a
árvore
Recebido por outro
passarinho.
***
Desde criança amei gratuitamente os
passarinhos. Tinha a sensação de que me ouviam, e de que comigo se comunicavam
pelo olhar. Nos fitávamos por longos minutos, e depois desse diálogo silencioso
e sutil eles levantavam voo. Quis muito voar com eles... O vento às vezes me
desperta esse desejo antigo.
Ver uma gaiola me deprime, e com passarinho
dentro, me tortura. E felicito-me em zelar pela liberdade desses serezinhos. Já
boicotei muita armadilha prestes a aprisionar Sabiás, Rouxinóis... Soltar
passarinho então, nem se fala!
Vejo os pássaros como crianças, seres lépidos,
lindos e puros. Talvez, por isso, eles se aproximem de mim, visitem-me na janela
de meu quarto, passeiem pela minha casa, deem ois nas minhas salas de aula, me
acompanhem no trajeto de casa ao trabalho e vice-versa.
A mesma sorte tenho ao ser alvejada por seus
cocozinhos, em minhas caminhadas matinais. E riu-me disso.
Legal é ter passarinho assim, solto.
Cuidemos desses bichinhos.
terça-feira, 02 de março de 2010